terça-feira, 3 de março de 2009

Deu no New York Times...

Um interessantíssimo editorial do New York Times, datado de quase 103 anos atrás, repercutiu o lançamento de um dos primeiros Manuais de Culto da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, o Book of Common Worship, ou Livro de Culto Comum, que hoje encontra-se em sua quinta versão (1993). O lançamento do BCW coroou a vitória do movimento litúrgico na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, que ocorreu durante o século XIX, simultaneamente ao grande resgate litúrgico visto também entre anglicanos e metodistas.

Deus permita que alcancemos este mesmo sucesso um dia em solo brasileiro, ainda que já mais de 100 anos atrasados.


O Livro de Oração Presbiteriano

Nova York, 9 de maio de 1906.

Não é de se espantar que certos brios tenham sido feridos pelo lançamento do novo Livro de Culto Comum [no original, Book of Common Worship, N. do T.], do Dr. Henry van Dyke, para uso da Igreja Presbiteriana.

É bem verdade que cada esforço foi feito para conciliar os preconceitos presbiterianos. É verdade também que a nenhum outro ministro presbiteriano poderia ter sido tão bem confiada a elaboração de tal obra, como o foi ao tato sensível do Dr. van Dyke. É verdade, inclusive, que o novo ritual não é, de forma alguma, imposto, sendo meramente anunciado em seu frontispício "para uso voluntário das Igrejas". Porém, não há de se negar o fato de que ele consiste, verdadeiramente, de um ritual, que contém "formas de oração" e "ofícios", e este fato por si só pode se apresentar como uma pedra de tropeço a várias pessoas. É bem possível que, inclusive, em alguns distritos afastados, o ministro que primeiro tentar empregá-lo seja recebido pelo fantasma de Jenny Geddes, a quitandeira que deixou bem claro seu apreço ao Rev. Thomas Carlyle, ao atirar seu banquinho contra o Arcebispo William Laud, gritando "Vil bandido! Ousas dizer missa no meu ouvido?".

Certamente será à forma, e não ao conteúdo do Livro de Oração Presbiteriano, que os opositores limitarão as suas objeções. Porque, de fato, todo culto público que se pretender decente e apropriado, deverá conter alguma formalidade. Uma congregação presbiteriana ficaria tão chocada quanto uma católica ou episcopal se o ministro começasse o culto diretamente com o sermão, ou irrompesse de súbito em canto, ao invés de seguir o procedimento costumeiro. E esse procedimento costumeiro é uma "forma".

É bem verdade que, quando o Espírito toca fortemente um ministro, ele pode acabar por improvisar orações mais eloqüentes e apropriadas ao contexto do momento, do que aquelas que lhe foram preparadas e impressas para o uso. Mas esta não é e nem pode ser a regra, mas sim a exceção, que as improvisações de um indivíduo atendam mais ao propósito do culto público comunitário do que "as formas de palavras sãs", prévia e cuidadosamente preparadas por pessoas competentes, e impressas para o uso (note-se, apenas para o uso) dos ministros que decidam empregá-las.

Por outro lado, quase todos podem se lembrar de ocasiões solenes, cuja solenidade foi diminuída ou arruinada pela "arte espontânea" de algum ministro pouco eloqüente ou desprovido de tato. E muitos, em tais ocasiões, devem ter lamentado a falta de um "ofício" mais eloqüente e impessoal, como o é o Ofício de Sepultura da Igreja da Inglaterra.

Na verdade, provavelmente deve-se muito ao seu bom ritual, que a Igreja Episcopal tem feito tão grande progresso neste País nos últimos anos, especialmente nas grandes cidades, onde tem arrebanhado fiéis até mesmo de outras denominações que rejeitam os rituais.

Um ritual que ninguém é obrigado a utilizar, a menos que o considere melhor do que quaisquer palavras que consiga improvisar de cabeça no último momento, não deve justificar qualquer ferocidade ou antagonismo. Podemos esperar que o novo Livro de Oração Presbiteriano caia, gradualmente, no favor da Igreja Presbiteriana.

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