sábado, 13 de fevereiro de 2010

Afinal, o que é Quaresma?

Editorial originalmente publicado no boletim de 14 de fevereiro de 2010 da Congregação Presbiteriana de Abreu e Lima/PE.


A partir da próxima quarta-feira, todos os cristãos do Ocidente entrarão no período do Calendário Litúrgico chamado Quaresma. O nome vem do latim, quadragesima, porque o período é contado a partir do quadragésimo dia antes da Páscoa.

Mas quem “inventou” isso? O que significa esse período que antecede a Páscoa? Para que ele serve?

O teólogo reformado suíço Jean-Jacques von Allmen explica que, no ano 325, no Concílio de Nicéia, logo que os cristãos fixaram a comemoração de uma Páscoa cristã separada da dos judeus, para celebrar a ressurreição de Cristo, criaram também um período de preparação para essa festa.

A idéia dos antigos era que, como na vitória de um rei, celebrava-se com festas e banquetes (e o que é a Páscoa senão a vitória do Rei dos Reis sobre a morte?), a preparação para essa festa se fazia com jejuns e meditação, para tornar ainda maior a alegria da festa vindoura.

Também para os antigos, nesse período os catecúmenos, ou seja, os novos cristãos que pretendiam professar sua fé, receber o Batismo e tornar-se membros plenos da Igreja, passavam para uma etapa mais intensiva de instrução e meditação, para que pudessem ser batizados no Domingo de Páscoa.

Outros elementos foram associados, ao longo dos séculos, com a Quaresma. Por exemplo, passou-se a estudar, nas leituras bíblicas do Antigo Testamento, o período de 40 anos que o povo de Israel passou no deserto antes de poder entrar na Terra Prometida (e cria-se uma analogia entre a peregrinação dos israelitas com a nossa própria, que somos “estrangeiros em terra estranha” e ansiamos entrar na Pátria Celestial). E, na Idade Média, o catolicismo romano transformou a Quaresma em período de penitência, de pregação do arrependimento dos pecados e de conversão. Criou a opção de se trocar os jejuns (que eram feitos duas vezes na semana, às quartas e sextas-feiras) pela abstinência de algum pequeno prazer da vida (principalmente o consumo de carne ou de álcool, como muitos católicos fazem até hoje), ou pela prática de obras de caridade. Foi aí que surgiu, copiando a prática dos israelitas, o uso de cinzas sobre os penitentes, que era aplicada no primeiro dia da Quaresma (e que ganhou, no século 12, o nome de “Quarta-feira de Cinzas”).

E só muito depois, quando as pessoas comuns não eram mais ensinadas sobre todo esse significado da Quaresma, que virou mero legalismo e superstição, inventaram o Carnaval, que significa “Festival da Carne”, e era a “última chance” do povo de comer carne e tomar bebidas alcoólicas sem se encrencarem com a Igreja. E lógico que, como era a “última chance”, o povo aproveitava para se empanturrar e encher a cara.

Mas e para nós, que somos protestantes e reformados, o que significa a Quaresma?

Ela significa um tempo de reflexão na obra de Deus em nossa vida; do Deus que andou junto do povo de Israel no deserto como coluna de nuvem e de fogo, e anda hoje conosco (em nós!) por meio de seu Santo Espírito. Significa um tempo de meditarmos na caminhada do Senhor Jesus para Jerusalém, que ele já sabia que terminaria em sua morte, e mesmo assim prosseguiu; de meditarmos na cruz de Cristo e seu significado para nós, e de meditarmos na nossa própria cruz, pois assim como Cristo a venceu, ele promete nos auxiliar a vencê-la.

Seja Deus sempre conosco!

Eduardo H. Chagas

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