segunda-feira, 24 de maio de 2010

Liturgia Evangélica 2: A Caixa de Ferramentas

Por Michael Spencer (iMonk)

Originalmente publicado em InternetMonk, em 15 de agosto de 2009. Traduzido com permissão.

NOTA: Já leu a Introdução? O primeiro post? Você deve.

As "ferramentas" para o culto referem-se aos livros e literatura de apoio necessários para fornecer um conteúdo, sabor e limites distintamente evangélicos ao culto público.

Um dos problemas com o culto evangélico é que a "caixa de ferramentas" inteira é, com freqüência, apenas o pastor e/ou o "líder de louvor"! Isso jamais deveria ser assim. Um membro ou visitante de igreja protestante deveria sempre poder recorrer à caixa de ferramentas de conteúdo autoritativo e não-autoritativo, e compreender o que está acontecendo no culto e mesmo o por quê do que está acontecendo.


Para o fim de delimitar o tema, eu vou me referir basicamente às ferramentas com as quais sou familiarizado, com meu tempo nas igrejas Batista e Presbiteriana. Eu sei que outros tipos de evangélicos vão usar outros documentos também. Também estou ciente que, para alguns dos meus leitores, o conceito é estranho, mas é muito, muito útil.

Então, o que tem na caixa de ferramentas do culto evangélico?

1. A Bíblia. Uma congregação deveria promover o uso de uma única tradução. Dados todos os fatores que devem ser equilibrados em uma tradução da Bíblia, a English Standard Version ou a New International Version seriam as minhas traduções de escolha. (E nem pensem em começar um debate sobre traduções nos comentários!) Ambas são traduções compreensíveis e sérias. Eu preferiria a ESV pela fidelidade do texto, e a NIV pela compreensibilidade do texto, mas posso trabalhar bem com ambas no contexto de um culto público. Considerando que, como veremos mais tarde, a leitura pública da Bíblia é um elemento essencial do culto público, uma boa Bíblia é um componente principal da caixa de ferramentas.

[em português, seriam equivalentes, nos critérios de tradução, a Almeida Revista e Atualizada e a Nova Versão Internacional, respectivamente. N. do T.].

2. O hinário. É, eu sei. Lá vamos nós...

O hinário é um recurso de crucial importância para o culto evangélico. Embora ele possa ser complementado, ele jamais deveria ser suplantado. Uma congregação ser ensinada a manusear e valorizar os recursos de um hinário será provavelmente a experiência mais ecumenicamente ampla, historicamente profunda e teologicamente enriquecedora que a maioria dos membros da igreja terá na vida. Há mais diversidade, tradição, teologia, história da igreja e conteúdo em um bom hinário do que em qualquer outro livro isolado que você possa pôr nas mãos de uma congregação. O hinário representa e resume a jornada da Igreja através da história, e une a congregação que cultua com a Igreja ao redor do globo e através de todo o tempo.

Nós somos nada menos que idiotas por nos livrar deles, e eu escolhi essa palavra com cuidado. Quem foi que decidiu que nós tínhamos que jogar fora dois mil anos de adoração porque eles não se encaixavam nos nossos planos de soar igual a música secular dos últimos 40 anos? Caramba, que belo trabalho de demolição fizeram! Eu sei que um monte de gente jovem "gosta" da nova música, mas temos também uma responsabilidade para com aqueles que vieram antes de nós, não de preferir ou de gostar do que eles gostaram, do tanto que eles gostaram, mas de usar com respeito e honra pelo valor que tem. Entregar toda a tradição musical e poética de dois milênios a um "ministro de louvor" pra que ele suma com ela a troco de música exclusivamente contemporânea é insanidade.

Quando eu era criança, gastava horas com o hinário durante os cultos. E aprendi muito. Se os pastores e dirigentes de culto usassem melhor os recursos do hinário, eu teria aprendido ainda mais.

Eu preciso elogiar o Lutheran Service Book por colocar o hinário completo e TODOS os recursos de culto comunitário e individual juntos num volume só. Ter esse hinário nas mãos -- uma experiência táctil -- é uma parte significativa do culto que nós subestimamos. Usem música nova. Chamem a bandinha de vez em quando. Projetem lá as letras. Mas a igreja dos últimos 2000 anos está naquele hinário. Na verdade, precisamos de hinários com maior diversidade histórica e cultural, não mais música de gente branca e evangélica.

Os hinários variam bastante e em vários sentidos. Escolha um com cuidado e seja compassivo com as inevitáveis deficiências. O hinário de 2008 da Convenção Batista do Sul é um projeto que envolve tanto os livros quanto o material para projeção de forma coordenada. Esta é certamente a direção do futuro, e é bem promissora para pôr fim a essa ridícula guerra aos hinos que os evangélicos perpetraram. Pesa contra as nossas cabeças que nós nos tornamos uma geração que se preocupa mais com o os nossos filhos não saberem o último sucesso do Hillsong -- o que em si mesmo é bom e justo -- mas não com eles não conhecerem os 100 grandes hinos da história cristã! O simples ler das letras dos hinos de Natal já é um banquete teológico!

Para muitos evangélicos, o hinário é a coisa mais próxima de um livro de oração comum e manual de culto que eles terão. Hinários devem ser escolhidos com cuidado para que possam ser usados para incluir chamadas à adoração, litanias, credos etc. Continuem preparando bons hinários, pessoal! Precisamos deles!

Vejam Bob Kauflin. Vejam Indelible Grace. Vejam um bom culto eclético na igreja e nas conferências de Piper. Acordem, evangélicos!

3. Os Credos e Confissões. A herança credal e confessional de uma igreja é uma parte vital da caixa de ferramentas. Para os batistas, isso pode incluir os credos ecumênicos e as nossas confissões históricas, não apenas a mais recente. A PCUSA tem um Livro de Confissões que inclui uma pequena biblioteca de recursos confessionais. Use-os na liturgia e no sermão com freqüência!

Toda congregação que cultua deveria usar esses recursos regularmente no culto público e individual. O valor disso é óbvio, e a ausência deles em boa parte das situações de culto evangélico também é óbvia.

4. Manuais e diretórios de culto. Algumas denominações publicam livros complementares sobre o culto público, como o Book of Worship da Igreja Metodista Unida, o Book of Common Worship da PCUSA e o Diretório do Culto Público dos reformados. Eles não são centrais, mas são úteis para estudo e discussão. As congregações deveriam saber que esses materiais estão na base da formação do culto delas.

5. Materiais desenvolvidos congregacionalmente. Algumas igrejas locais desenvolvem seus próprios materiais de culto. Uma igreja batista reformada que eu conheço compilou cânticos e hinos que não foram incluídos no Trinity Hymnal, e empregam essa compilação junto com o hinário. Outra igreja que eu conheço publica uma versão expandida e comentada da liturgia dominical para cada estação do Calendário Litúrgico. Isso permite a qualquer um participar plenamente do culto E ler uma explicação dos "por quês" e dos "comos". Isso ajuda bastante.

6. O Pacto da Igreja. O costume das igrejas batistas rurais de pendurar o pacto da igreja dentro do espaço de culto é ostensivo e desnecessário, mas o pacto da igreja é um desses documentos que, junto com os credos e confissões, deveriam aparecer com alguma freqüência no culto. Ele pode ser facilmente colado no final do hinário. Comunidades que querem aprofundar o conceito de membresia da igreja devem desenvolver recursos litúrgicos que incluam o pacto.

7. O Calendário Cristão. Uma explicação completa do Ano Litúrgico deve estar prontamente disponível. Se a igreja (espero) observa de forma ampla o Calendário, então muitas perguntas vão surgir. Uma descrição do Ano Litúrgico deve estar disponível para que crianças, jovens e adultos possam consultar, e a liderança possa empregar, quando ensinar sobre o culto.

Evitar o Ano Litúrgico tornou os evangélicos rasos. Não há nada para eles que proíba os pastores de fazer o que quiserem quando quiserem, até mesmo pregar algum sermão em série em pleno Domingo de Páscoa. O Ano Cristão mantém os temas teológicos do Evangelho como a força motriz da pregação, e deixa metade do ano livre para fazer outras coisas. É uma invenção tão inteligente que eu não consigo entender as objeções contra ele.

8. O Lecionário. Os evangélicos sofrem demais por não usar o lecionário para a pregação e a leitura pública das Escrituras. Muitos bons lecionários estão disponíveis, tanto em ciclos anuais como em ciclos trienais. Nenhum lecionário é perfeito, mas ele fornece um "recurso primário" para a pregação e a leitura pública das Escrituras. Ele tem a vantagem de sincronizar a congregação com milhares de outras congregações, algo de que os católicos, anglicanos e luteranos desfrutam e muitos evangélicos ignoram completamente.

9. Também apropriados para a caixa: responsos musicais comuns. Material devocional comum. Ênfase denominacional no culto. Material sobre os compromissos missionários da igreja. Material sobre a história da igreja. Explicações sobre como se tornar membro. Material de divulgação de pedidos e respostas de oração.

10. (Alerta de humor) para alguns batistas: envelopes de oferta. Etiquetas adesivas como crachás. Uma igrejinha de plástico para ofertas de aniversário. Giz de cera para as crianças. Folhas com histórias bíblicas para colorir . Um monte de literatura denominacional antiga numa mesa. Pôsteres da Escola Bíblica de Férias.

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