sábado, 10 de julho de 2010

A Liturgia Evangélica 13: O Ofertório

Por Michael "iMonk" Spencer

The Evangelical Liturgy 13: The Offering originalmente publicado em InternetMonk, 2 de outubro de 2009. Traduzido com permissão.

Todos os posts desta série podem ser lidos na categoria Série: Liturgia Evangélica. Se você não sabe do que eu estou falando, leia a Introdução.


Embrenhe-se nos sertões do sudeste do Kentucky, ache uma igrejinha Holiness rural, daquelas onde a pregação, cheia de lamentos e saltos e gritos, parece uma coisa de outro mundo; uma igreja onde ninguém conseguiria ler uma ordem de culto se eles tivessem uma.

Bem no meio do culto eles terão um ofertório. A mesma coisa em quase qualquer igreja, protestante ou evangélica, a menos que eles tenham mudado de propósito o jeito como as ofertas são feitas (o que acontece em muitas igrejas que estão repensando seus cultos segundo as linhas contemporâneas/voltadas aos que buscam).


Como vários outros pontos da liturgia, o culto evangélico/protestante ainda está ligado a suas raízes litúrgicas e católicas, e assim é com o ofertório.

Na liturgia anglicana, ao sermão, às orações, à confissão de fé e à saudação da paz segue-se a liturgia da Santa Comunhão, e na rubrica que precede este passo da liturgia, você encontra o seguinte:


Representantes da congregação trazem as ofertas do povo de pão e de vinho, e de dinheiro ou outros donativos, para o diácono ou celebrante. O povo se coloca de pé enquanto as ofertas são apresentadas e dispostas sobre o Altar.

Enquanto eu fui batista, nossos sermões (o aspecto mais "sacramental" do nosso culto) sempre eram precedidos por um ofertório. Luteranos e outros nos dirão basicamente a mesma coisa: a recepção das ofertas do povo vem em um momento de "junção", com um sentido de movimento das nossas ofertas para Deus, precedendo a dádiva de Deus da Palavra/do Sacramento para nós.

Talvez, na época em que as ofertas do povo incluíam o pão e o vinho que se tornariam os elementos da Comunhão (como ainda acontece na tradição católica em muitos lugares), houvesse uma beleza estética e ligação com o culto, do que simplesmente passar uma sacola ou bandeja de moedas, dinheiro e cheques para o altar. Eu, pelo menos, sempre achei o ofertório protestante (e com fundo de "oferta musical") o momento mais esquisito, desconfortável e às vezes causador de distração no culto.

No meu próprio planejamento litúrgico, eu procuro seguir esta ordem (após as lições e antes do sermão):

- As Orações do Povo
- Silêncio
- Oração Pastoral
- Ofertório
- Meditação musical
- Oração de Ação de Graças (breve)
- Doxologia (ou outro responso cantado)

O ato de arrecadar dinheiro em bandejas e sacolas é parte do culto? Seria melhor colocar o ofertório fora da liturgia, talvez um gazofilácio na saída do lugar de culto? Será que as igrejas deveriam colocar as ofertas de dinheiro totalmente fora do culto público, organizando suas finanças em particular, por meio de compromissos, subscrições, livros de ouro etc.? Será que o impacto negativo do ofertório sobre os visitantes é um preço alto demais a pagar?

O Novo Testamento não diz explicitamente como as ofertas devem ser feitas na vida congregacional, embora seja óbvio, de cartas como II Coríntios, que as ofertas, e dinheiro em geral, não eram um assunto a ser evitado, e a conexão entre o dinheiro e o ministério de misericórdia para com os pobres era proeminente. Mas o que Paulo diria sobre publicarmos os números do orçamento no folheto da ordem de culto?

Eu preciso confessar que sou dividido neste assunto. Eu aprecio as igrejas que têm ciência da tendência desta parte da vida congregacional de causar a impressão errada sobre o que está acontecendo. Uma pessoa não-instruída pode facilmente presumir que esteja acontecendo uma transação financeira entre os participantes do culto e Deus, ou que o dinheiro vai todo para o pregador. Será que o ofertório tem essa importância toda no culto público, no nosso tempo?

No entanto, eu também creio que a vida financeira está perto do centro de muitos dos nossos valores mais internos, incluído aí o culto. O ofertório, em que pese todo o seu potencial de ser mal-compreendido, reflete o centro de como nós vivemos, quem e como nós amamos, e como nós compreendemos o discipulado e o culto.

Eu voto pela inclusão do ofertório na liturgia evangélica, mas também voto para que demos uma explicação generosa, impressa nos materiais que damos aos participantes do culto, para que sejam resolvidos os mal-entendidos em potencial.

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